Arco-da-velha: Fenómeno luminoso provocado pela incidência dos raios solares na atmosfera, que produz o aparecimento, do lado oposto ao Sol, de um arco de círculo com as cores do expectro solar.in "Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Corresponde ao meu desejo de o Sol brilhará para todos nós!!!

sábado, maio 19, 2007

A Catarina


CATARINA EUFÉMIA

Francisco Miguel



Na vasta planície os trigos não ceifados.

Ao longe oliveiras batidas pelo sol.

Tu serena caminhas para os soldados

com a ideia, para todos um farol.


A brisa não se levantara.

Ias armada apenas da razão.

Contigo os milhões que têm, fome

contigo o povo que não come e que ali cultiva o nosso pão.


O monstro empunhava as armas de aço.

Tu pedindo a paz serena caminhavas

levando um filho no colo outro no regaço.

As armas dispararam, tu tombaste.

Com teu sangue a terra foi regada.


E ali à luz do sol que tudo ardia

dava mais um passo a nossa caminhada.

Na boca da mulher assassinada

certeza da vitória nos sorria.


o sol que o teu sangue viu correr

que teus camaradas viu ali aflitos

ouvirá amanhã os nossos gritos

quando o novo dia amanhecer


Que nessa terra heróica - Baleizão -

onde se recolhe o trigo branco e loiro

teu nome gravado em letras de oiro

tem já cada um no coração

4 comentários:

Maria disse...

Bela homenagem a Catarina.

Ofereço-te esta:

AO RETRATO DE CATARINA
Carlos Aboim Inglez

Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lábios resolutos
Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta

Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido

Tanta seara continhas
Visível já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura

Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto

Maria disse...

E mais esta:

LAIVOS DE AQUENTEJO
Luísa Vilão Palma

O panal era branco em rendas de suor, como a cal que a Ti Liberta fervia no azado, ao fundo da rua do monte. O ervaçal no empedrado. O monte era o rumo dos dias nas tardes calmosas. Deixava a tarimba ao luzir do buraco, enquanto o cão ansiava a bôla de farelo, impaciente. A cauda do animal agitava-se na cadência dos passos da mulher.
O patrão podia aparecer a qualquer hora. O cereal amassado a crescer. O forno em labaredas de coração apaixonado na metáfora do escritor.

— Bom dia, Ti Liberta, já soube da desgraça?
-Oh! home, o que dizes tu?

O olhar da mulher fraquejou, começou a toldar-se, fundindo-se na sombra da azinheira solitária que o artista empresta à tela camponesa as tuas mãos em gesto ritmado no movimento da foice as paveias soam a queixume de quem implora o pão

..hás de fazer do teu lenço vermelho a única bandeira viva sobre a terra...

Sim, a desgraça, ti Liberta. Ela caiu. Ali mesmo.

Entre a terra e o céu. Lá. Pelo Maio calmoso das aceifas escureceu o sol tardiamente, beijando-lhe a face pela última vez. Lá. Onde a imensidão. Vagueiam gestos ousados em lágrimas de sangue da mulher.
O cereal amassado a crescer. O forno em labaredas de ódio no retrato da tirania.

Ti Liberta, abra os olhos.

Já faz tempo que a ceifeira, na voz de todas as ceifeiras, deixou rolar a foice entre o trigal, desesperada. Foi por mor do acrescento de uns tostões à jorna.
Ficou tamanho eco no infinito da gente que lutou até à exaustão.
A tua foice, Catarina.
Alentejo, vestimos os teus panos. Tu matas-nos a sede.

Maria disse...

Esqueci-me de te deixar 4 QUATRO beijos

DDivinal disse...

politiquices à parte (que julgo apenas empobrecerem o exemplo desta mulher) é uma história inspiradora...

pouê?

porque ainda há vidas que significam alguma coisa neste mundo... e por isso vale a pena continuar e sonhar em um dia ter uma delas já agora...