Conversas acompanhadas pelo chiar dos Comboios

È difícil descrever por palavras o que os seus olhos contavam, a sua linguagem quase imperceptível depressa se tornava numa suave morna, o Sr. Velho, homem de fraca estatura, rosto marcado pelo sol e pela chuva, rugas traçadas pelas intempéries da vida, mal chegava a alcançar o frio balcão de alumínio, deixava que os seus olhos falassem e o azul penetrante dos seus olhos claros, embora gastos, demonstrando o cansaço de tantas coisas já vistas e passadas eram tão expressivos e penetrantes que as suas palavras enigmáticas se tornavam tão translúcidas como uma gota de água! Olhos que depressa abafavam o barulho quase ensurdecedor do passar das carruagens que deslizavam pelos carris atrás de si.
Quando esticava as suas mãos de árduos anos de trabalho, quase desproporcionais à sua estatura física, depressa nos apercebíamos da sua vontade de viver.
O velho estendia lentamente a mão para nos cumprimentar para depois receber um saco com alguns viveres, fazia-o com um ar meio envergonhado, e contava através do olhar e de um murmúrio, como se tivesse de se justificar
Sr. Velho nem sempre aparecia, mas a sua presença ou ausência era notada. Havia ali um desejo subjacente de entrar em contacto com a sua carregada existência ou sobrevivência, um desejo quase egoísta mas ao mesmo tempo protector.

Entretanto os comboios passam, assim como tanta gente, e Sr. Velho lá está vendo-os passar até que a sua existência se esgote e seja atirado para uma vala comum.